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Sem Empatia diante dos Números, por Cleber André Sganzerla

08/04/2021

Quando a Pandemia bateu à nossa porta, há mais de um ano, os caminhos, as teorias e as análises eram incertos. Acreditamos em um retorno breve ao dito “normal”. A maioria dos prefeitos e governadores seguiu a única coisa que podia servir de parâmetro naquele momento e serve até hoje: a ciência. Para conter o Tsunami da Covid-19, as escolas, o comércio e a indústria fecharam as portas para conter a propagação do vírus. Por outro lado, o presidente Bolsonaro, se é que se pode chamar alguém assim de presidente, desde cedo adotou a política do “não vai dar nada" e "É só uma gripezinha". Essa política evoca uma “manutenção da normalidade”, através do discurso de salvar a “economia” em detrimento da segurança dos trabalhadores e de seus familiares, essa política nos trouxe até aqui apresentando sérios problemas, que colocam o Brasil no epicentro global da doença.

Você pode estar se perguntando: "mas como salvar a economia, uma vez que Marias e Joões estão tendo dificuldade em colocar um prato de comida na mesa?" Respondo que para salvar a economia é necessário criar projetos e programas de enfrentamento à doença, com seriedade e fundamentado em uma ciência séria. Para salvar a economia é preciso investir na compra e na criação de vacinas com muito mais rapidez. Em 2020, perdemos prazos para compra de imunizantes e estamos pagando um alto preço. Enquanto isso, as nossas vidas são tratadas como meros números em uma economia que desconhece o valor da vida dos trabalhadores, do “ser humano” onde o lucro acima de todos é lei. Assim sendo, nossos corpos se transformam em pilhas de oferendas ao insaciável “Deus Mercado”, e somos a base que mantém de pé uma sociedade que está mais pra torre de Babel do que para uma pirâmide social.

Porém, salvar vidas e salvar a economia não deveriam ser antagonistas. São caminhos necessários e interdependentes que um governo minimamente responsável deveria tomar. Quem mantém a economia e os altíssimos juros que beneficiam os banqueiros com lucros bilionários somos nós, os trabalhadores. Enquanto um auxílio emergencial de R$150,00 soa como um deboche, a gripezinha virou o maior massacre da história nacional. Um genocídio. Para se ter uma noção, mesmo juntando todas as guerras que o Brasil lutou, o número de mortes não chega aos quase 400 mil mortos que é estimado alcançarmos ainda em Abril. Esses números ilustram uma política de morte de Bolsonaro.

Em meio a isso tudo, as eleições municipais com seus acordos e as verbas para que as campanhas estivessem na rua, exigiram e exigem em troca de apoio, políticas de abertura do comércio e inúmeras flexibilizações. Para que a pirâmide(torre de Babel) econômica não "desmorone" seu topo repleto de privilégios, a solução messiânica de Guedes e de Bolsonaro é cimentar a base de corpos humanos as escoras que sustentam sua ideologia liberal negacionista, que glorifica a cloroquina e a anticiência num ritual macabro de luto e desespero.

Estamos exaustos. Acessar as nossas redes sociais está se tornando um pesadelo diário onde a política de CPFs cancelados deleta mais um amigo(a), mais um conhecido(a) das nossas redes sociais. O vazio virtual está se tornando mais um sentimento que estamos aprendendo(e não deveria ser um aprendizado...) a conviver. Não deveríamos normalizar essas mortes. Dói, dói na alma… Porém, a saudade e a indignação me fazem, apesar da necessidade de nos mantermos em quarentena, ter vontade de nos aglomerar para juntos derrubarmos esse desgoverno e sua política de ódio, mas não dá...

Esteio se tornou a cidade da Região Metropolitana com os piores números no enfrentamento ao Covid-19. Os dados da Secretaria Estadual de Saúde mostram que são 322,1 mortes por cada 100 mil habitantes. É inacreditável! Esses números citados, somados à indiferença nas redes sociais da Prefeitura e do próprio prefeito Leonardo Pascoal (PP) quanto às mortes, nos mostra a realidade que ninguém quer ver. No Facebook ou no Twitter, o prefeito tenta manter seu o Mundo de Alice, perfeito e intocável. Diante da realidade que muitos não percebem e não querem ver, nossa “economia” se transforma à base de corpos e do luto. E às vezes somos lembrados numa notinha de rodapé...

Estamos cansados... eu como funcionário público e professor não vejo a hora de tudo passar. Nunca trabalhamos tanto e nunca fomos tão pouco valorizados. É inadmissível que o Sr. prefeito tente vender uma ideia distorcida de que somos "os únicos que não trabalharam na Pandemia”. Não tivemos nenhum apoio do município quanto aos equipamentos para a produção e aplicação das aulas online, que se transformaram em realidade da noite pro dia. Minha casa, meu computador, minhas redes sociais, meus planejamentos estão disponíveis a todos que quiserem provas sobre o trabalho desenvolvido neste tempo de pandemia. Parem de dizer inverdades ou meias verdades. Posso repassar as milhares de mensagens de whatsapp que chegam na noite, na madrugada, nos finais de semana, as centenas de arquivos das atividades geradas e tudo o mais. Não tenho nada a esconder. Os educadores não fogem da luta e estão desempenhando incessantemente seu trabalho nesta ímpia e injusta guerra.

Sinto vergonha de ser parte de uma sociedade em que prega e apoia valores que nos levam a manter uma política de genocídio de uma economia baseada em corpos dos mais de 350 mil mortes. Que apedreja os trabalhadores públicos que tanto se esforçam para levar educação e esperança à sociedade.

Enquanto o fim de tudo isso não está claro, seguimos resistindo contra uma doença mais grave que o Covid-19: à falta de empatia e da indiferença diante do outro.

Cleber André Sganzerla é professor da rede pública Municipal de Esteio, Diretor da E.E.E Médio Margot T. N. Giacomazzi e diretor do SISME.